Vivemos uma era de automação. A tecnologia, felizmente, já deixou de ser um tabu na contabilidade. Hoje, temos ferramentas que agilizam lançamentos, cruzam dados com inteligência artificial e permitem análises gerenciais com precisão quase cirúrgica. Sou defensor convicto da modernização da contabilidade. Uso plataformas, apoio a digitalização e reconheço o valor das contabilidades online sérias, com estrutura, profissionais qualificados e acompanhamento técnico. Mas há um ponto que não posso deixar de criticar – as chamadas “contabilidades faça você mesmo”.
Essas plataformas, que prometem “contabilidade simplificada, sem contador”, vendem um sonho perigoso: o de que qualquer pessoa pode tocar a parte fiscal, contábil e trabalhista de uma empresa com meia dúzia de cliques, como se a contabilidade fosse apenas uma questão de apertar botões.
O problema não é a tecnologia. É a irresponsabilidade.
Vamos ser justos: tecnologia é aliada, não inimiga. O problema não está nas plataformas em si, mas no modelo que transfere para o próprio empresário toda a responsabilidade sobre cálculos, tributos, enquadramento e declarações fiscais, sem qualquer suporte técnico qualificado. Isso não é contabilidade. É um “atendimento genérico com interface bonita”.
Essas empresas não têm um contador que analisa sua atividade. Não perguntam se o seu CNAE é compatível com a atividade real. Não orientam sobre o melhor regime tributário. E, se o cliente cometer um erro, quem paga a multa é ele – não a plataforma.
A falsa economia
É comum o argumento de que o “faça você mesmo” sai mais barato. Mas isso só vale até o primeiro erro. Uma DAS emitida com código errado, uma DIRF esquecida, um envio fora do prazo para o eSocial — e pronto: a suposta economia vira uma multa de R$ 500, R$ 1.000 ou mais, além de complicações com o fisco que podem resultar na exclusão do Simples Nacional ou até na perda do CNPJ.
Já vi clientes chegarem desesperados ao escritório após usarem essas plataformas por meses sem saber que estavam cometendo infrações. Quando a Receita bate na porta, a “contabilidade de R$ 29,90” some. E quem precisa resolver o problema? Um contador de verdade.
Contabilidade é ciência. Não é autoatendimento.
A contabilidade é uma ciência, com base técnica, normativa e legal. O profissional contábil não serve apenas para calcular impostos, mas para proteger o patrimônio, garantir a conformidade fiscal e orientar decisões estratégicas. Reduzir isso a um botão de “gerar guia” é como substituir um médico por um aplicativo de autoavaliação de sintomas. Pode até parecer funcional no início, mas pode custar caro — ou muito caro — mais adiante.
Nem tudo que é digital é moderno
Vivemos uma era em que a conveniência virou argumento de venda. Mas é preciso ter muito cuidado com soluções que prometem “autonomia total” quando, na verdade, estão apenas transferindo a responsabilidade do contador para o próprio cliente — sem que ele sequer perceba.
Ser digital não é sinônimo de ser moderno. A verdadeira modernidade está em conciliar tecnologia com inteligência humana, em utilizar softwares que otimizam tarefas, sim, mas sem abrir mão da análise crítica, do olhar estratégico e da responsabilidade técnica do contador. Automação sem orientação é um convite ao erro.
E mais: nem tudo que é online é contabilidade. Se não há análise contábil, se não há responsabilidade técnica registrada, se não há profissional habilitado acompanhando o processo, isso não pode — e não deve — ser chamado de contabilidade. No máximo, é um serviço de geração automatizada de documentos, vendido com um nome bonito para parecer confiável.
Como profissional da área, me preocupo profundamente com o futuro da contabilidade, e defendo sim o uso da tecnologia, da inovação, da digitalização. Mas também defendo o respeito à nossa profissão, à nossa ciência e aos nossos clientes.
Porque no fim das contas, o que garante a saúde de uma empresa não é um sistema bonito que gera guias. É um contador atento que enxerga o que está por trás dos números, que antecipa riscos, que orienta o crescimento, que age como guardião do patrimônio e da conformidade legal.
É isso que faz da contabilidade uma profissão essencial. E é isso que nenhuma plataforma “faça você mesmo” será capaz de substituir.
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